Meia Noite em Paris

 

Fazia frio nos primeiros dias de dezembro quando fui a Paris, cheia de luz e vida parecia um conto de fadas pela manhã, longas ruas com cafés e passeios bem-humorados ao longo do rio Sena, a noite adentra, mas a cidade não dorme, sempre há algo interessante pra se fazer, no crepúsculo ela fica ainda mais romântica e vibrante. Tudo parecia belo ate que tive que olhar nos olhos dela e ver o que eu não queria. Olhei e me deparei com uma triste realidade: ela era a vilã da minha história e eu da dela, antagonistas de uma história marcada por erros e fatalidades. Não tinha noção do abismo diante de nós. 

Cruzamos os olhares mas indeferentes seguimos e não olhamos pra trás. Ela se enganou na própria narrativa, ardilosamente planejou tudo e atraiu a quem tinha por alvo. Eu me enganei acreditando nas próprias histórias que fantasiei, me perdi quando baixinho ele sussurrou: “eu vejo a vida em cor-de-rosa”.

Nos tons melodiosos dessa canção, minha vida foi se esvaindo e perdendo o brilho que tinha no olhar. Assustada com tamanha força que destruiu parte de mim, nas ruas francesas eu entrei e bebi um destilado tão ruim quanto a amargura que sentia. Saí perambulando e, sem rumo, dormi na mesa de uma taberna de luz baixa. Lembrava que ela agiu errado e não se desculpou, saiu querendo ser vítima desse crime, mas no fundo, tão maliciosa, punha em ação cada vez mais armadilhas no caminho. Pensava em como se fazer presente numa guerra que eu não queria lutar.

Tive que olhar nos olhos dela e ver que não era nem metade de mim, mas não vencem a corrida os que andam mais ligeiros, nem sempre pegam os despojos os que lutaram e nem sempre vivem os que mereciam.

Eu vi a imensidão de suas angústias, revisitei seu passado, soube das decisões que teve de mudar de ideia, conheci suas cicatrizes, marcas em seu peito que desenham o pesar, as cicatrizes que carregamos são assinaturas únicas na vida de um ser humano. Se você não é feito para mim, então por que diz que sou águas passadas? Como águas revoltosas debaixo da ponte, sacudo meus pensamentos e tento racionalizar de onde veio essa fresta de felicidade sem causa. É verdade que me perdi em suas palavras suspiradas, mas não soube encará-la. Talvez nem mesmo tenha dito para mim, nunca quis lutar, muito menos te machucar, mas vidro não se conserta, remediado está.

Quando deixei a taverna, a única coisa pela qual queria lutar era pela minha vida longe da tua e, a cada gole, mais distante estava mesmo. Já era madrugada quando levantei a vista e vi o relógio por cima do ombro do garçom já entediado pela monotonia daquela hora.

Nessa narrativa, as únicas perdas foram seus contos perdidos e minha felicidade esfarelada. Nada é como você imaginara. Anos se passaram antes de eu viajar. Eu não fui a seu encontro; saí à francesa há muito tempo. Tudo está confuso e a verdade é que você jogou fora sua vida por uma mentira contada e, quando foi verdade, viveu uma mentira. Ainda assim agraciada de uma luz brindou a vida que vinha e espero que acerte com ela, joia preciosa, não a perca! Destinos que se desfizeram e seguem tão brilhantes como antes, já era de manhã quando as luzes travessaram as janelas sujas daquele lugar e mostram o raiar do dia que me levaram embora no trem a caminho de casa.


Vanessa P. Diniz

Carrego São Luís no meu coração e transmito meus sentimentos por palavras! Seja Bem Vindo!

Enviar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de Contacto