Beijinho, beijinho - Luis Fernando Veríssimo

Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil e é um dos escritores mais queridos e prolíficos do Brasil, conhecido por sua habilidade de capturar a essência da vida cotidiana com humor e perspicácia. Verissimo começou sua carreira como jornalista e tradutor. Trabalhou em diversos jornais e revistas, incluindo "Zero Hora", "Jornal do Brasil", "O Globo", "Folha de S.Paulo" e "Estado de S.Paulo".Sua habilidade de encontrar o humor nas pequenas coisas e nas situações comuns da vida faz dele um cronista querido e acessível.

 "Beijinho, beijinho" de Luis Fernando Verissimo é uma crônica que combina humor, ironia e uma observação perspicaz do comportamento humano. Ao focar em um gesto comum e aparentemente trivial, Verissimo nos convida a refletir sobre a profundidade e a autenticidade de nossas interações sociais e a questionar as convenções que seguimos sem pensar.

 "Beijinho, beijinho" - 2003



Na festa dos 34 anos da Clarinha, o seu marido, Amaro, fez um discurso muito aplaudido. Declarou que não trocava a sua Clarinha por duas de 17, sabiam por quê? Porque a Clarinha era duas de 17. Tinha a vivacidade, o frescor e, deduzia-se, o fervor sexual somado de duas adolescentes.

No carro, depois da festa, o Marinho comentou:

Bonito, o discurso do Amaro.

Não dou dois meses para eles se separarem ‒ disse a Nair.

O quê?

Marido, quando começa a elogiar muito a mulher…

Nair deixou no ar todas as implicações da duplicidade masculina.

Mas eles parecem cada vez mais apaixonados ‒ protestou Marinho.

Exatamente. Apaixonados demais. Lembra o que eu disse quando a Janice e o Pedrão começaram a andar de mãos dadas?

É mesmo…

Vinte anos de casados e de repente começam a andar de mãos dadas? Como namorados? Ali tinha coisa.

É mesmo…

E não deu outra. Divórcio e litigioso.

Você tem razão.

E o Mário com a coitada da Marli? De uma hora para outra? Beijinho, beijinho, “mulher formidável” e descobriram que ele estava de caso com a gerente da loja dela.

Você acha, então, que o Amaro tem outra?

Ou outras.

Nem duas de 17 estavam fora de cogitação.

Acho que você tem razão, Nair. Nenhum homem faz uma declaração daquelas assim, sem outros motivos.

Eu sei que tenho razão.

Você tem sempre razão, Nair.

Sempre, não sei.

Sempre. Você é inteligente, sensata, perspicaz e invariavelmente acerta na mosca. Você é uma mulher formidável, Nair. Durante algum tempo, só se ouviu, dentro do carro, o chiado dos pneus no asfalto. Aí Nair perguntou:

Quem é ela, Marinho?


Vanessa P. Diniz

Carrego São Luís no meu coração e transmito meus sentimentos por palavras! Seja Bem Vindo!

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