O Coração Secreto de Ivy Green: Parte I

 

.. tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades... Eça de Queiroz

É interessante como nossa memória funciona, não é? Lembramos de algumas coisas vividamente, enquanto outras parecem escapar facilmente. Cheiros que nos transportam para momentos e pessoas específicas, músicas que nos fazem reviver o passado, lugares que guardam histórias inesquecíveis, nossas próprias histórias, que loucura não é mesmo? Ivy, uma jovem de 16 anos da cidade, estava no início de um ano peculiar que mudaria seu curso de vida. Ela estava no auge da adolescência, descobrindo o mundo ao seu redor, estudando e observando o mundo à sua volta. As questões da vida adulta começavam a surgir, como o que fazer da vida após o ensino médio. A maturidade necessária para decidir aos 16 anos qual rumo tomar é um fardo pesado.

 Ivy se via confrontada com questões como trabalhar, apenas estudar, qual carreira seguir, o que lhe traria satisfação, se precisava mudar, o que tinha a oferecer ao mundo. E se Ivy preferisse não decidir nada? Apesar de sua aparência mediana, sua personalidade segura era evidente. Seu olhar brilhante denotava curiosidade, um interesse precoce por assuntos além de sua idade, tornando-a uma jovem peculiar. Ela se destacava por sua capacidade de resolver problemas, encontrar alternativas e ajudar os menos afortunados. Sua personalidade ácida e seu olhar perspicaz muitas vezes ignoravam a maldade e o despeito alheio, enquanto ela se iludia com as maravilhas do mundo.

Falando em mundo, que contraste ele apresenta! Países como a Irlanda, com suas paisagens deslumbrantes, contrastavam com relatos de tráfico de adolescentes no norte de seu próprio país. Ivy se perguntava se estava segura em sua comunidade, na escola, na família. Como uma jovem tão nova já se preocupava com a possibilidade de sua inocência ser violada? Pensamentos perturbadores permeavam sua mente, mas ela buscava momentos de escape, como uma simples limonada após um dia exaustivo, assim como as donas de casas desesperadas estadunidenses. Ivy acreditava que precisava de momentos assim, e às vezes se reunia com suas amigas para conversar ou simplesmente ficar em silêncio, longe das preocupações do dia a dia.

Pobre Ivy, pensando estar estressada sem sequer imaginar os boletos que ainda teria que enfrentar na vida adulta. A juventude é um período de descobertas, assim como a primavera é cheia de cores e renascimento após o outono. Com o passar dos anos, adquirimos uma nova perspectiva, novas possibilidades, novos amigos e novas direções. Cada experiência molda nossa visão de mundo, e com isso a maturidade se instala.

O ano era 2006 e foi emblemático para Ivy, pois uma mudança significativa ocorreu em sua vida. Um amigo demonstrou interesse por ela e rapidamente tomou as medidas necessárias para se fazer notar. Embora nunca tivesse considerado esse amigo de forma romântica, a possibilidade despertou em Ivy uma série de pensamentos sobre o que poderia acontecer entre eles.

João Miguel, seu amigo de infância, era um rapaz alegre e maduro para sua idade. Trabalhava para ajudar sua mãe e era muito respeitado. Apesar de ser 11 anos mais velho que Ivy, isso não parecia ser um problema, pois ela admirava sua maturidade e o modo como ele se destacava dos outros jovens. Ele era seguro, tinha um senso de humor similar ao dela e parecia haver uma conexão profunda entre eles. 

O relacionamento entre Ivy e João Miguel se desenvolveu lentamente, com muitas conversas e momentos compartilhados. Ambos seguiam com suas vidas, mas acreditavam que o destino reservava a felicidade para eles. O tempo foi preenchido com pequenos gestos carinhosos, passeios e momentos de cumplicidade. O respeito mútuo era evidente, e Ivy se tornou uma mulher mais segura de si mesma, fortalecida pela segurança e apoio de João Miguel.

Certa vez, passeando observaram um casal de namorados onde o rapaz passava os dedos nas bochechas de sua namorada, João Miguel disparou: "quando o homem faz esse tipo de gesto é por que seu sentimento é sincero." Ao lado, Ivy escutou e se perdendo nos seus pensamentos se transportou para um momento anterior onde ele também havia feito o mesmo com ela, olhando nos seus olhos ele não havia dito nada, ele quis dizer mais do que conseguirá e naquele momento e se limitou no gesto, para somente explicar meses depois o que queria dizer. Bem , ele nunca disse nada e seguiram caminhando naquele dia e encarando suas rotinas normalmente. 

João Miguel escondia sua timidez com seu humor autodepreciativo, algo que Ivy achava encantador. Ela era discreta sobre o relacionamento deles, pois sabia como as pessoas podiam ser cruéis com seus julgamentos. No entanto, mesmo sendo jovem e inteligente, Ivy reconhecia que não havia uma fórmula para proteger seu coração. Ela precisava confiar em si mesma e em suas escolhas, mesmo que isso significasse enfrentar a incerteza do amor.

Continua...



Vanessa P. Diniz

Carrego São Luís no meu coração e transmito meus sentimentos por palavras! Seja Bem Vindo!

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