Cafezinho- Rubem Braga

Rubem Braga foi um dos mais importantes cronistas brasileiros do século XX. Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, em 12 de janeiro de 1913, e falecido em 19 de dezembro de 1990, Braga destacou-se pela sua habilidade em transformar o cotidiano em arte literária, criando crônicas que capturavam a essência da vida e das pequenas coisas.

Cafezinho" é uma crônica que exemplifica a maestria de Rubem Braga em transformar momentos triviais em experiências ricas e profundas. Sua capacidade de capturar a essência da vida cotidiana e transmitir emoções e reflexões através de uma escrita simples, mas envolvente, torna esta crônica uma leitura prazerosa e enriquecedora. Ao ler "Cafezinho," somos lembrados de que a beleza da vida está muitas vezes nos pequenos detalhes e que é importante parar e apreciar esses momentos. 

Cafezinho (1963)



Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho. Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia inteiro tomando café.

Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas com um pouco de imaginação e bom humor podemos pensar que uma das delícias do gênio carioca é exatamente esta frase:

– Ele foi tomar café.

A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas. O remédio é ir tomar um “cafezinho”. Para quem espera nervosamente, esse “cafezinho” é qualquer coisa infinita e torturante.

Depois de esperar duas ou três horas dá vontade de dizer:

– Bem cavalheiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio morreu afogado no cafezinho.

Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim, deixemos em todos os lugares este recado simples e vago:

– Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.

Quando a Bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar:

– Ele está?

– Alguém dará o nosso recado sem endereço.

Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo:

– Ele disse que ia tomar um cafezinho…

Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão:

– Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu dele está aí…

Ah! fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim. A vida é complicada demais. Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita palavra. O melhor é não estar.

Quando vier a grande hora de nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café. Vamos, vamos tomar um cafezinho.



Vanessa P. Diniz

Carrego São Luís no meu coração e transmito meus sentimentos por palavras! Seja Bem Vindo!

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