Lilás no amarelo é a cor do ramalhete que murchou, águas não sustentaram viva, o sol abrasou suas folhas, secou seus ramos e suspirando esvaiu-se a vida que restara. Antes tão brilhosa e resplandecente, desabrochou para viver e viveu para ver as mãos trêmulas do amante que as comprou e atravessou a avenida 23 em direção à cabana alameda, em cabará do sul. Ventava frio e quanto mais próximo, mais lindo o arranjo parecia. Mantinha os passos e o coração acelerado, pensamentos inquietantes ocupavam a mente do jovem que ainda segurava o arranjo. Pisou nas folhas secas e avistou a pessoa que mais queria na janela, distraída e atrapalhada ao tentar acender a lareira.
Entardecia do lado de fora e resplandecia do lado de dentro o coração da sua amada. Escuro era seu cabelo, que ondulava no meio das costas. Ela colocou as callas, frésias e statice num jarro cônico e passou a apreciar sua beleza. Nervoso, tropecei em algumas palavras porque não entendia o quanto feliz eu estava por dividir com ela aquele momento. Nosso casamento sem festa, nossa lua de mel no meio do nada, simples e eterno como eu planejei. Por mim, teria uma festa enorme, mas não combinava com o jeito introvertido dela e, mais do que minha vontade, a minha felicidade era ver a dela.
Terra, água, vento e o silêncio rodeavam o ambiente escuro e, sem intromissão, eu a deixei dormir no aconchego dos meus braços que ficaram dormentes enquanto eu observava o constelar das estrelas no teto de vidro, a coisa mais linda que eu presenciei, ver os astros iluminarem o vasto céu sobre nossas cabeças. Orei a Deus e agradeci. Amanhã eu coloco água nas flores, pensei... Amanhã preparo nosso café… amanheceu maravilhosamente lindo o desenho que o sol fazia no prisma que atravessava o chão do mezanino. Cercado do ar fresco e da neblina que ia se perdendo em meio à densa floresta, já era dia quando despertamos e fomos tomar café, um líquido escuro que transparecia no copo de vidro e realçava aqueles olhos castanhos que eu me apaixonei, colecionando mais aquele momento.
Sentados nos degraus da casa, me vi abençoado. Ouvia os pássaros que sobrevoando pareciam coroar aquele momento e lembrei das flores, precisavam reviver para ver os últimos dias de maio e os primeiros da minha nova vida. Esqueço-me de todas as preocupações, não que elas não existam, mas porque ao lado dela eu superarei todas. Não sei como será a nossa vida, mas prometo rir quando não houver o que fazer, me contentar com o que tiver e pedir mais desse amor, sempre mais... Sempre me pergunto como seria minha vida se tivesse feito a reserva, se tivesse comprado as frésias, se tivesse casado com ela, se não tivesse atravessado na frente do carro na rua marsala do dia 28 de maio...
Gostei desse também 🤗
ResponderEliminarMeu xodó esse! :)
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