Sem Tempo ...


Amo a paz que o silêncio traz; a solitude é um prazer que poucos contemplam. Será errado sonhar com a solidão, um ambiente calmo para que meus pensamentos possam brigar em paz? Nessa hora, se espalham pelo corpo os desgostos da vida que eu gostaria de compilar em um arquivo e esquecer de vez. Já que a vida não é justa, uma escolha anula a outra; não se pode ter nada nessa vida miserável que levamos. E o que levamos? Senão nosso orgulho, que não serviu de nada, nossos bens, que tanto cuidamos, mas que outros facilmente se desfazerão. Nossas casas serão alheias, mudarão de lugar os móveis, trocarão as fotos das nossas molduras. Nossa casa será o lar de outra pessoa. Tudo o que não se apressou em fazer, o tempo o faz mais bruscamente.

O badalar do relógio marca a hora tão esperada e ao mesmo tempo tortura quem está à espera. O correr dos dias leva os boletos mensais, mas angustia quem está no leito de hospital, na espera por um transplante. Os anos parecem longos para pagar a hipoteca da casa, mas passam tão rápido no engatinhar de uma criança, que logo logo andará sozinha. Os anos avançam para um adolescente que tem pressa de viver e os mesmos anos passam para o adulto que não entende como tudo já passou e há tanto por fazer. O tempo segue esgotando, indiferente, e não te dá uma segunda chance.

O tempo tão cruel não adianta para que os amantes se vejam, nem retrocede para eu ter uma última conversa com quem se foi. O tempo para quem se foi esgotou e, quem sabe, tenham ficado pedaços dessa pessoa naquelas que vivas mantêm sua memória. Ensinamentos que são válidos para os que ficaram, mas talvez não para os que descobriram tarde demais a sabedoria dos seus próprios conselhos.

Uma única chance a vida te dá, sem replay, sem segunda chance. Aja também sem segundas intenções; não engane a si mesmo afogando o tempo em bebidas inebriantes, imerso em telas azuis ou em vícios que levam sua saúde e cortam pela metade o pouco tempo que te é concedido. Quando se der conta, as crianças já terão aprendido a falar, a mulher ao seu lado já não será mais a mesma, os pais já não estarão mais aqui, os amigos terão ido embora, a firma já terá fechado e a vida já terá encerrado o expediente. Aí vem a amiga morte te abraçar com seu corpo frio e consolar pelo pesar de deixar o tempo passar.



Dedicado ao meu Pai Raimundo S. Diniz (02/06/2022) R.I.P.

Vanessa P. Diniz

Carrego São Luís no meu coração e transmito meus sentimentos por palavras! Seja Bem Vindo!

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