Os Votos Matrimoniais


Teve um casamento na pequena cidade de Mariana, mas esqueça as flores, o salão oval alugado, os convidados, o bolo de andar, esqueça a decoração, o atraso da noiva, o padrinho que ainda não chegou com as alianças, o nervosismo do noivo e todas as nuances desse dia que marca nossas vidas.


Teve um casamento sim, mas na banheira de um hotel à beira-mar que ficava a poucos metros do local onde aconteceu a cerimônia. Os noivos vieram a pé mesmo, o vestido da noiva longo e sujando à medida que passava no chão ladrilhado a caminho do hotel que ficava quase já no final da rua, ela com a taça de champanhe na mão e o noivo com a garrafa bebendo uns goles no gargalo mesmo, enquanto conversavam sobre como tinha sido a cerimônia e fofocando sobre os comportamentos inadequados de alguns convidados, do frio que fazia aquela noite e como as extremidades de seus corpos já estavam congelando, o que era totalmente inesperado, já que Mariana era uma cidade quente e até as noites não costumavam esfriar tanto.


Chegando na suíte nupcial, encontraram um quarto decorado com pétalas de rosas vermelhas e mais champanhe para comemorar, ao lado de um pote cheio de morangos tão suculentos e que viriam bem a calhar para eles que, naquele dia tão cheio, fizeram tudo menos se alimentar.


Ambos exaustos, decidiram que tinham a vida toda pela frente para fazer suas obrigações de casados, optaram por sentar na borda da banheira do quarto e ajustar a temperatura para aquecerem os pés. A banheira tinha uma janela grande, que ia da borda até o batente alto da parede, com uma vista das ondas que batiam no forte de pedra à beira-mar e um luzeiro que, naquela noite, estava ainda mais cintilante, um amarelado fraco quase da mesma cor do vestido de Andy.


Ela levantou o vestido na altura do joelho quando pôs os pés na banheira com água morninha, quase um tremor na espinha, sensação de relaxamento por completo. Quando olhou pela janela, brindou com Deus, fechou os olhos e agradeceu ali mesmo em silêncio. John dobrou a barra da calça, tirou o paletó preto, folgou a gravata e, entre um gole e outro do champanhe já pela metade, se esticou e pegou uma Bíblia pequena, era o velho testamento de capa azul, daquelas antigas mesmo, que estava sobre uma prateleira ali perto, e abriu no Salmo 128 e começou a recitar para Andy que, sem entender, olhava confusa para ele. Ela nunca foi muito religiosa, mas acreditava em Deus, diferentemente dele que, mesmo não frequentando a igreja, tinha criação católica, e por hábito lia sua Bíblia todos os dias ao amanhecer.


Se trata de um salmo curtinho mesmo, poucos versículos. Quando ele terminou, explicou: "Eu levo muito a sério o que vamos construir aqui, daqui em diante, eu prometo ser o homem desse salmo para você, cuidar e proteger nossa família. Vou orar para que você seja a mulher descrita aqui, que nossos filhos sejam esses mesmos aqui descritos e que Deus nos dê sabedoria para darmos conta de tudo."

Andy, totalmente pega de surpresa começou a corar e se viu ainda mais apaixonada por aquele homem, admirando suas palavras e vendo que tinha acertado em sua escolha. Ela podia jurar que a noite estava conspirando para que tudo tivesse sido perfeito como foi. Apenas deslizou para mais próximo dele, apoiou sua cabeça em seus ombros e suspirou e disse: "Eu prometo!"


Teve um casamento sim, mas foi ali na beira da banheira com a lua como juiz e as estrelas como testemunhas, as ondas que batiam cada vez mais revoltosas, na verdade, brindavam o evento e assim a noite se estendeu madrugada afora, mais negra e silenciosa como nunca para não atrapalhar os recém-casados.




Vanessa P. Diniz

Carrego São Luís no meu coração e transmito meus sentimentos por palavras! Seja Bem Vindo!

1 Comentários

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de Contacto